Faz pouco tempo que a seleção brasileira de futebol era sinônimo de orgulho nacional. Ganhando ou perdendo Copas do Mundo, a chamada “amarelinha” morava no coração do torcedor. A realidade, no entanto, mudou bastante nas últimas décadas e parece ter atingido seu ápice. A última pesquisa Datafolha, por exemplo, mostra que apenas 2% lembraram-se de dizer que torcem para o time (neste momento) dirigido por Tite. Já em 2018, pesquisas indicaram que 53% da população não tinha qualquer interesse pela Copa do Mundo (então realizada na Rússia).
Há vários aspectos que podem ajudar a explicar essa nova realidade. A chamada globalização do futebol, impulsionada em grande parte pela diferença de patamares econômicos do Brasil e de outros países sul-americanos em relação aos do chamado primeiro mundo, é um deles. Hoje é comum ver a garotada vestindo camisas de clubes ingleses, italianos, espanhóis. É na Europa que está o filé da bola, traduzido em grandes salários, no potencial para grandes negócios e, por fim, na chance de virar milionário. Os principais atletas do futebol brasileiro migram para lá em busca do ouro.
Outro fator é a gestão incompetente que, de modo geral, marca o esporte no Brasil. Os clubes estão, em sua grande maioria, presos a administrações arcaicas que os tornam dependentes de interesses alheios para sobreviver. Acrescenta-se a esse cenário, a antipatia daquele que é considerado o maior craque brasileiro da atualidade, além do pouco caso que boa parte dos jogadores da seleção dispensa aos torcedores. Afinal, quem está ligando para as derrotas acachapantes, as desclassificações ridículas e os sucessivos vexames da seleção? Talvez nem mesmo os torcedores estejam.
Fora tudo isso, surgem trapalhadas pontuais. Exemplo: o técnico da seleção decide, com uma canetada, conquistar um pouco mais de antipatia e de ódio das torcidas dos clubes, ao convocar jogadores envolvidos na disputa do Brasileirão e que desfalcarão suas equipes para enfrentar amistosos toscos contra países que, no mundo do futebol, não acrescentarão absolutamente nada ao selecionado nacional.
Esta é a pior crise de reputação da seleção canarinho.
Uma crise que, pelo jeito, só tende a crescer. Não há propostas concretas para recuperar essa imagem. Como em outros setores da vida nacional, também ao futebol falta uma política séria que o resgate e o alce novamente ao patamar de um dos mais respeitados do mundo. Claro que não se trata de saudosismo. Não se trata de voltar no tempo, quando não havia assédio europeu ou chinês, quando os craques jogavam aqui e se identificavam com o torcedor. Mais do que nunca, especificamente no caso da seleção, trata-se de investir numa política de aproximação e valorização do maior patrimônio da seleção: o torcedor. Aquele que foi esquecido durante as últimas décadas deve ser procurado novamente.