O dono de um jornal do interior de São Paulo foi abordado por um leitor na banca. “Seu jornal não tem quase nada pra ler”, queixou-se. “Meu jornal é só para dar uma olhadinha; se você quiser ler mesmo, compre a Folha ou o Estadão” foi a resposta. Do episódio, datado da década de 1980, quando os jornalões paulistanos ainda surfavam sem as transformações da internet, pode-se extrair uma importante lição. Aliás, duas.
A primeira é que a empresa deve saber situar-se em seu universo de atuação, no diâmetro possível a ser alcançado. Fora desse parâmetro, os riscos podem comprometer não apenas sua capacidade produtiva, mas principalmente sua reputação. A pergunta aqui é: qual é o objetivo atual de sua empresa?
O objetivo do dono do jornal era muito claro. E por isso ele não teve receio nem qualquer embaraço ao dirigir-se ao leitor com a clareza necessária para ambos os lados. E isso nos leva à segunda lição, talvez uma lição profética.
Profética porque esse caso já tem mais de trinta anos. Ocorreu numa época distinta em relação a quase tudo que podemos considerar como sendo ferramentas, plataformas, estratégias e outros aspectos da comunicação. Nos anos 1980, a Folha chegou a circular com 1 milhão de exemplares. O Estadão chegava tão pesado que o jornaleiro mal podia atirá-lo por cima dos muros das casas.
A profecia está vinculada a um dos pontos mais importantes da comunicação corporativa do mundo atual: assumir verdades que em outras épocas podiam constranger. Hoje, verdades incômodas costumam fundamentar estratégias de marketing vencedoras.
O dono do pequeno jornal de uma cidade pequena saiu-se com uma grande resposta que deve embasar a postura de empresas e executivos dispostos a construir uma imagem transparente e confiável.
Há trinta anos, o mundo não interagia tão rapidamente, tão massivamente, como hoje. A internet e todas as facilidades que se sobrepõem umas às outras num ritmo alucinante provocam uma interatividade capaz de gerar desconfiança e julgamentos em segundos.
A empresa, o dono da empresa, o produto da empresa e tudo que possa estar vinculado à sua imagem só têm uma defesa segura: investir na credibilidade. Esse é o principal patrimônio de uma época em que tudo e todos estão à prova.
Estabelecer compromissos claros que cheguem ao público alvo sem ruídos é o primeiro passo para gerar, mais do que confiança, a cumplicidade desse público. Pronunciar-se com clareza, como fez há mais de três décadas o dono daquele pequeno jornal, é não dar chances às dúvidas, às suspeitas – vírus nocivos ao complexo processo dentro do qual se gera a reputação.